13 de abril de 2012

Um Anônimo 5




Hakim e Jullius conversaram por mais um tempo, depois de terminarem de jantar. Jullius chamou algumas mulheres para dançarem para eles e ali ficaram bebendo e fumando com tudo do melhor que aquelas terras secas poderiam oferecer. Já era por volta da meia-noite quando o anônimo se despediu e voltou ao seu quarto.

Pegou sua bolsa pequena com os itens que tinha separado, o sangue tinha sumido, fazia parte de seu tratamento especial naquele lugar. Por fim pulou na mesa, com a tira de couro de sua bolsa atravessando o peito, abriu a janela e a atravessou.

Procurou reentrâncias e pedaços de arquitetura e sem dificuldades, mas devagarmente, desceu a parede de tijolos que foi recém reformada para dar um ar belo ao prédio. Não viu ninguém quando finalmente pousou, mas pelo costume, pegou seu capuz e o colocou sobre a cabeça escondendo seu rosto pelas sombras. Andou devagar em direção ao grande castelo, por vezes via ratos e baratas fazendo suas rondas noturnas pelas ruas e lembrou-se do juramento que fez em não matar nada que não possua consciência e isso incluía todos os animais, mesmo as pragas. Isso não importava mais agora, poderia esmagar quantas baratas desejasse.

Chegou ao alto muro que cercava o castelo, construído há muitos anos com grandes blocos de pedra e argamassa, feita de uma mistura de água, terra e areia. Circundou o muro, procurando algo, mesmo cada pedra sendo idêntica à outra. Quando achou o que procurava, parou, uma parte da argamassa que escorria petrificada por entre os tijolos estava gasta, como se tivesse sido cavada por uma faca, olhou para cima e viu vários trechos cavados da mesma forma, era por ali que trabalhadas que lembram pontas de flecha, sendo colocadas intermitentemente, deixando um espaço suficiente para um homem passar, se ali tivesse chegado. Hakim descansou ali por um instante, tinha rachado duas unhas e estava suando, mas sabia que a parte difícil já havia passado. Agora bastava descer com cuidado cerca de um metro e meio e pular para o galho de uma árvore que crescia rente ao muro, por sorte a árvore continuava de pé no mesmo lugar, mas agora parecia melhor podada.

Desceu pelo muro e olhou de costas para o galho, só podia dar impulso com as pontas dos dedos, então ficou um pouco acima dele, para compensar a força da gravidade, pulou para o galho esticando seu corpo e dando um ultimo impulso com a perna direta, o galho veio até ele que por sua vez o abraçou com o braço direito, para não perder o equilíbrio e usou o esquerdo para aliviar o impacto junto com seu joelho. Engatinhou como um tigre numa árvore e desceu os galhos até o último, de onde pulou.

Repetia os mesmos passos que naquela noite há um ano atrás, tudo estava onde lembrava, os bancos, a grama, as flores, mas pareciam ter alguma vida agora, um cuidado especial. Achou outro caminho que tinha feito, esse dava para uma janela quebrada por onde tinha entrado com facilidade. Escalou a construção e chegou a janela do primeiro andar, tinham-na trocado por completo, o anônimo pegou sua faca e a forçou pela brecha da janela com apenas uma mão, já que a outra estava segurando o parapeito, forçou a faca para cima até sentir a resistência da tranca, que foi quebrada pela sua força.

Abaixou a cabeça para abrir as janelas e entrou na escuridão do quarto que não estava sendo usado por ninguém. As portas, é claro, não estavam trancadas, daria mais trabalho destranca-las com a chave mestra do que deixa-las abertas e assim ficavam. A guarda do rei impediria qualquer ameaça que ousasse cruzar os muros do castelo e há um ano aqueles corredores mal iluminados estavam realmente cheios de guardas, utilizou-se de muitas portas destrancadas para estocar corpos, mas hoje não havia ninguém, só as tochas acesas por óleo de peixe.

Rumou pelos corredores, lembrando-se do caminho que tinha decorado quando fingiu ser um serviçal para saber a localização dos aposentos do rei. Não viu nenhum guarda em seu caminho, mas ouviu a voz de uma homem quando virou a esquina de um corredor, começou então a andar silenciosamente, procurando com seus ouvidos a origem do som, andou alguns metros até ver uma porta entre aberta em que discerniu um “boa noite”, jogou-se ao chão e espreitou pela porta, viu um homem alto se levantando de uma cadeira, que moveu até um lado do quarto, enquanto havia duas camas, uma do lado da outra, com uma criança em cada.

Tirou a cabeça do batente e levantou-se, abrindo a porta ao lado, à encostando e deixou apenas espaço o bastante para poder ouvir os passos do homem quando saísse. Ouviu o leve ranger da porta, mas depois disso nada. Ele não estava vindo em sua direção ou já o teria ultrapassado, então estava indo para os aposentos do rei, pensou. Saiu dali e o seguiu a passos leves, sempre se encostando nas portas, para caso o homem se virasse, ele teria como sumir.

O provável rei usava um pijama de linho, longo e calçados feitos de pano, por isso não faziam barulho. O homem virou várias esquinas por aqueles corredores e Hakim teve certeza que aquele homem não estava indo para os aposentos do rei, se fosse um criado, estava perdendo tempo, mas como nunca tinha visto um serviçal do sexo masculino cuidar de crianças, resolveu que valia ver até onde ele iria. Chegou no fim de um corredor, onde abriu uma porta dupla, revelando uma sacada com duas cadeiras apontando para a vista e uma mesa entre elas, que apoiava uma bandeja com vários copos virados para baixo e algumas garrafas de bebida de cores diferentes. O homem virou um copo e verteu 2 dedos de um líquido vermelho, se sentando numa das cadeiras em seguida.

O anônimo se aproximou, colocou as duas mãos na cadeira ao lado e disse:
– Posso-me sentar aqui, senhor?
– Quem é você? – virou-se assustado – Um ladrão, presumo.
– Não vim lhe roubar nada e nem machuca-lo, mas quero ter uma palavra com você, já que é o rei – disse sem ter muita certeza, mas que serviçal beberia no meio da noite
– Eu geralmente tenho reuniões pela tarde – moveu seu corpo para encarar o homem de frente – Mas pelo visto você não é um cidadão comum, sente-se e sirva-se de uma bebida.

O anônimo serviu-se da mesma bebida do rei, tinha um forte cheiro de álcool e sentiu um gosto amadeirado depois da queimação inicial em toma-lo. O rei não parecia preocupado, tinha tomado um susto mas foi só, sua face era quadrada e tinha evidentes olheiras, que lhe davam um olhar de cansado ao mesmo tempo que sério.

– Ouvi dizer que você era um padeiro antes de virar rei, as mordomias dessa vida já lhe corromperam?
– Ha ha, não existem mordomias em ser rei, em governar uma cidade, só problemas para serem resolvidos. Mas eu ainda sou um padeiro, você não deve ter visitado minha cozinha.
– E porque seria? Tem serviçais para fazer esse trabalho para você.
– Nesse caso, eu não teria o prazer de fazer o pão e esticar uma massa me ajuda a relaxar. – tomou um gole da bebida – Assim como cuidar das crianças.
– E beber.
– Aye – levantou o copo para cima – Me tornei rei porque eu sou bom com finanças, mas tento ajudar as pessoas porque esse é o dever de um governante. Imagino que sua Ordem entenda isso.
– O que você sabe sobre minha Ordem?
– Sei que são discretos, mas toda Ordem precisa guardar dinheiro em algum lugar e eu conheço a vestimenta de vocês. Se vocês parassem de usar capuz em todo canto, seriam mais discretos.
– Ha ha, vou me lembrar disso, mas como deixei minha Ordem, seu conselho não vai chegar a eles.
– Não sabia que vocês podiam sair assim, sem mais nem menos.
– Não podemos, mas eu fiz minha escolha – Hakim tomou mais um gole daquela bebida e sentiu queimar
– Você matou os reis, durante esses anos. Achei que fosse um grupo de assassinos, nunca um homem só.
– Eu nunca disse isso – disse sem emoção
– Mas é verdade não é? – olhou para o rosto sem expressão de Hakim – Interessante, você se arrepende disso?
– Não tenho do que me arrepender, além do mais, aqueles reis mereciam a morte.
– Não sou homem de julgar as ações dos outros, mas muita coisa estava ruim realmente e muita coisa ficou pior, depois. Eu lembro dos folhetos, deveria ter deixado isso nas mãos do povo.
– Eu devolvi ao povo sua soberania – deixou escorregar por entre os lábios
– Admiro o que você fez, como um homem só e concordo que o povo é mais forte que seu governo. O problema é não pensarem como um. O problema e a solução do povo é ele próprio.
– Um povo oprimido e letárgico não sabe o que fazer. Eu devolvi a escolha a eles, para o bem ou para o mal, mesmo o mal sendo tão frequente.
– Eu acho que o povo acaba evoluindo. Não podemos viver em cabanas de pedra para sempre, as coisas tem que mudar em algum momento, o povo tem que acordar em algum momento. Mas para mim essa escolha cabe as pessoas e somente elas.
– E se minha interferência apenas adiantou as coisas?
– Nem todas as pessoas estão preparadas para mudar, tudo tem sem tempo de acontecer.

O anônimo ponderou sobre aquilo, era a primeira vez que alguém lhe tinha dado um argumento que o fazia reconsiderar o que tinha feito. Ele era uma ferramenta, mas quem batia o martelo também era ele e devia também ter considerado que nem todos estão prontos para a mudança e uma mudança forçada como tinha feito, só causaria dor a quem não está preparado, não existe opção para eles.

– Eu considero seus pontos válidos. Mas isso não muda meus objetivos e o que eu já fiz. Devo consertar o que está quebrado por minha causa, se ainda puder e por isso estou aqui. Para saber se você vai causar problemas a cidade.
– Eu não sei, provavelmente sim. Terá que vir me matar algum dia, quando eu falhar. Como os outros falharam.
– Se reconhece o valor da humildade e de ajudar seu povo, não vejo motivo para faze-lo. Não conheceu os reis como eu conheci, todos corrompidos pelo poder e pela riqueza, o povo era coadjuvante em seu reinado, apenas ali para serem controlados e provirem o rei. Por isso estão mortos.
– Não é algo que eu faria, – disse o rei, terminando sua bebida – mas vou tomar cuidado.
– O poder corrompe o homem – comentou Hakim
– Discordo, o homem corrompe o poder.

O anônimo terminou sua bebida, abaixou a cabeça em cumprimento ao rei e se despediu, saindo pela porta dupla. Fez todo o caminho de volta, saiu pela janela, agora quebrada, subiu na árvore e pulou para o muro de pedras, descendo calmamente pelo outro lado. Tinha gostado do rei, achou que era um homem sensato e seria um bom governante, por um tempo. No bordel, escalou a parede do edifício e entrou pela janela, a fechou e deixou suas coisas em cima da mesa, tirou sua roupa e iria deitar-se, mas antes, pegou seu capuz e o jogou no lixo.

6 de abril de 2012

Um Anônimo 4



O homem não gritou, mas não estava morto, levou uma mão ao pescoço e procurou os olhos do amigo por uma explicação, que por sua vez largou a adaga no chão e rasgou um grande pedaço de sua camisa de algodão e entregou para o outro.

- Você deveria ter-me matado – pegou o tecido e o colocou na ferida
- Desculpe, não sou capaz de matar um amigo – foi até a cama deixar seus pertences – Embora seja egoísta de minha parte, você pode voltar com uma desculpa agora.
- Eles vão saber, eles sempre sabem
- Eles não são magos, Iman, magia não existe – sentou-se na cama – Devo chamar um médico?
- Não, eu trouxe linha e medicamento – pegou uma pequena bolsa de seu cinto – Vou usar seu banheiro.
O sangue escorria pela roupa de Iman, mas não era uma ferida fatal, embora fosse uma área difícil de não causar danos. Ele tomou uma bebida de um frasco e usou o espelho para dar pontos em si mesmo, usando uma agulha curva como foice, foram cinco pontos a sangue frio, já tinha passado por coisa pior, pensou. Voltou à sala e disse para Richard:
- Precisão cirúrgica, Hakim, ou eu deveria chama-lo de Richard agora?
- Me chame do que quiser – Hakim estava arrumando uma bolsa, tinha largado o resto de seus pertences no armário – Preciso visitar o novo rei, ver se ele é um homem íntegro
- Qual seu propósito agora? Já não matou os reis? Libertou as cidades?
- Preciso ver o dano que eu causei – colocou a bolsa em cima da mesa – alguns erros são irreparáveis, mas outros talvez eu possa consertar.
- Precisa admitir que seu propósito acabou – riu Iman – Deixe que os deuses decidam seu destino agora.
- Eu sou uma ferramenta, Iman, nada mais. Continuarei arando a terra até quebrar.
- Peça e receberá – continuou com o sorriso no rosto

Iman atravessou o quarto e passou pelo Anônimo, subiu na mesa, abriu a janela e saiu, se pendurando na arquitetura externa do bordel. Hakim fechou a janela e se sentou para admirar o vai e vem das pessoas, que agora pareciam tão distantes da pobreza. Não importava o quão bem elas estavam, se o rei fosse corruptível, isso não duraria muito tempo. Esse é seu propósito, essa é a missão que ele escolheu.

Aguardou o anoitecer, tinha dormido para reabastecer suas energias, não teve sonhos, aprendeu a suprimi-los dentro da Irmandade, já que sonhos nos arrastam para outros mundos e um homem nunca deve perder contato com a realidade. Acordou consciente do tempo que tinha dormido, eram oito horas da noite, precisava comer alguma coisa antes de partir.

Jullios o convidou para jantar com ele em seus aposentos. Um quarto amplo no último andar, paredes pintadas de vermelho, assim como o carpete e as cadeiras de camurça de cabra, que eram adornadas de dourado nos pés e encosto. A frente delas jazia uma mesa retangular feita de mogno, onde repousavam diversas frutas e animais assados, algumas mulheres ainda estavam arrumando a mesa quando Hakim entrou com Jullios, que disse gostar de comer fartamente, ainda mais na companhia de amigos.

Naquela noite comeu muito bem, uma refeição que não fazia a muito tempo e provavelmente não voltaria a fazer tão cedo. Os dois ficaram discutindo o estado de outras cidades, o Anônimo ficou sabendo quais tinham prosperado e quais tinham tido seu declínio de antemão, mas ainda achava necessário visita-las.
Matou 10 reis em 10 cidades, 6 cidades caíram em caos completo, duas dessas viraram cinzas, as outras 4 tiveram trocas de poder, Nicosa não entrou em um estado de pânico por conta da apatia e a pobreza da população, o novo rei era um padeiro, uma boa parte das pessoas, Jullios inclusive, disseram que ele deveria ser rei pelo seu jeito com as pessoas e com dinheiro. Ele acabou aceitando e levou o povo da pobreza a riqueza no espaço de 1 ano.

- Solima, o que aconteceu com a cidade?
- Não sei-lhe dizer, ouve boatos da morte do rei, mas... – Jullios fez a conexão – Acho que não são boatos, então. Alguém dentro da hierarquia deve ter assumido o posto e tentou esconder a morte, aconteceu isso em Gartaga, como eu disse, eles não estão indo muito bem.
- Entendo – tomou um gole de vinho – Solima foi muito recente, imaginei que as coisas ou estariam estagnadas ou ela tivesse queimado até cinzas.
- Não se sente culpado pela morte de dezenas? Não que eu esteja reclamando, olhe o que o padeiro fez por mim!
- Disse isso a um amigo meu e vou dizer à você, um homem tem que fazer, o que um homem nasceu para fazer.

30 de março de 2012

Um Anônimo 3


Um homem chegava a cavalo a uma bela cidade, cercada com paliçadas de madeira levantadas para uma guerra que nunca aconteceu. O homem entrou na cidade por uma passagem na estrutura de madeira, aonde havia muitas pessoas saindo e entrando com grandes carroças, lotadas de verduras, legumes e outros alimentos. O chão era feito de pedras, que ressonava com o barulho das vozes das pessoas que negociavam e trocavam produtos em meio a um calor seco, apenas apaziguado pelas sombras dos toldos e sombrinhas que alguns traziam consigo, o que às vezes dificultava o caminho do homem que calmamente desviava das pessoas e carroças paradas.

Ele já tinha estado ali antes, como estivera na cidade anterior, mas as coisas tinham mudado, onde se via crianças pedindo esmolas, agora haviam crianças vendendo jornais, assim como as lojas quase sem estoques agora estavam sem espaço para armazenar tudo que o dinheiro podia comprar. Quem falou isso era um conhecido do homem sem nome, Jullios, que comandava um pequeno cabaré no coração da cidade de Nicosa.
- Então Richard, parece que seu plano deu certo, apesar de tudo – continuava Jullios – Tivemos um pequeno alvoroço, mas o povo venceu.
- Plano? Não sei do que você está falando – retrucou o homem
- Eu sei que foi você – deu um sorriso pretensioso – Uma pessoa comprou 2 Kg de papel a muito tempo atrás, quando ainda não tínhamos caído na lama total. Depois que assassinaram o Rei, apareceram os folhetos com aqueles dizeres. Eu fiz as contas.
- Não sei do que está falando – o homem abriu um sorriso – Preciso de um quarto, o de sempre.
- Fico feliz em saber que escolheu o meu estabelecimento – Jullios passou a mão por dentro do balcão e pegou uma chave – mesmo sabendo que os hotéis daqui não têm mais pulgas.
- Mesmo que tivessem – disse pegando a chave de sua mão – nada se comparava a tomar café da manhã de frente para belas mulheres.

Os dois riram e Jullios tratou de mandar colocar o cavalo do homem para dentro de seus estábulos enquanto ele subia para os quartos. O lugar tinha um carpete vermelho pelas paredes e no chão, com rodapés chanfrados feitos de madeira escura, sentindo uma leve essência de perfume feminino, podendo ouvir gemidos fingidos por fora das portas que passava. Seu quarto era o 06, ultimo do corredor que dava para os fundos do lugar, virou a chave na porta de madeira e abriu a porta. 


Havia um homem sentado em uma das cadeiras que ficavam ao lado de uma mesa de café, ele vestia uma roupa de algodão e linho tingida de branco, tinha cabelos negros e longos, mas nenhuma barba. O homem sem nome entrou sem se preocupar, fechando a porta atrás de si e deixando a chave pendurada na fechadura. Chegou perto do intruso e disse:
- Não esperava vê-lo aqui, irmão – o homem de branco se levantou
- Claro que não esperava – sorriu – se esperasse, eu ficaria muito chateado comigo mesmo.
Os dois fizeram um comprimento característico que consistia em agarrar a mão do outro como que pelo polegar e puxar o peito um para o outro terminando em um abraço fraternal. O homem de branco disse:
- Não acredito que você fez o que fez
- Também não acredito. – foi à frente da mesa para saborear uma uva – Mas fiz o que achei certo. Nosso mestre nos disse para fazer isso.
- Ele também nos disse para não usar o Ato fora de missões oficiais. – disse o homem de branco fechando o rosto – Você sabe o que eu vim fazer aqui. Ninguém deixa a irmandade sem consequências. Ninguém faz o que você fez sem consequências.
- Acredito que como meu amigo e ex-irmão, se assim você preferir – começou, o homem sem nome – Você só me veio dar um aviso.
- Exatamente – falou amargo – Mas vou ter que caça-lo depois disso. E quando eu não conseguir pega-lo, vão enviar outro em meu lugar. Talvez me executem se souberem que eu lhe avisei que estamos cientes de seus feitos e eles sempre sabem.

Ele sabia o que isso significava. O homem de branco se sentou na cadeira e tirou uma faca prata adornada com símbolos da irmandade e a estendeu com as duas mãos para o homem chamado Richard, que o olhou de volta, ainda em frente à mesa, pegou a faca de suas mãos. A empunhou com a mão direita enquanto o homem abaixava a cabeça, deixando os cabelos caírem, escondendo seu rosto em um tétrico véu de morte.

Richard se afastou da mesa, ficando ao lado do outro, se preparando para dar o golpe. O punhal subiu e reluziu com a luz em um momento de hesitação para enfim descer em um rápido golpe que cortou o pescoço do homem, manchando de vermelho o tecido branco. 

8 de julho de 2011

Visão Especializada - Duke Nukem Forever

Estamos novamente com um video comentado de jogos. Para quem joga e para quem não joga:

7 de julho de 2011

Um Anônimo 2


- Alto lá - disse o guarda dos portões da cidade de Tartus - A cidade está interditada.
- Mas é o único caminho disponível, Guardião.
- Não posso permitir transeuntes.
- Por qual razão? Até parece que a cidade está sem rei.
- Temos um Rei, é claro, do contrário eu não estaria aqui.
- Perdão, eu vim de Solima e o Imperador está morto. Era uma piada.
- Não achei graça.
- Preciso passar pela cidade... Por quê você não fica com meu cavalo Britano?
- Não tente me enganar forasteiro, entendo de cavalos e esse é um cavalo de Corã. Posso ver pela coloração marrom.
- Que besteira minha tentar enganar um Guardião. Ainda assim, é um bom cavalo não?
- De fato. Bem, se deixa-lo comigo, você pode entrar na cidade.
- Era só o que eu precisava escutar.

O homem tirou seus pertences do cavalo, deixando apenas as rédeas e o entregou para o Guardião. Ele agradeceu e tentou subir no cavalo, mas a armadura limitava seus movimentos e parecia ser ligeiramente menor do que o tamanho de seu usuário, que acabou por permanecer aonde estava, segurando o cavalo, um pouco constrangido. Depois disso o homem seguiu para dentro do portal da cidade, feito de pedra e argamassa, como toda sua murada. Passeou pelas ruas arenosas, desviando de corpos que jaziam no chão das ruas, entrou em casas que haviam pegado fogo, sobrando apenas a vaga lembrança da estrutura de madeira escura e o cheiro de cinzas jogado pelo vento. Dentro delas não tinha muito, certamente foram saqueadas, provavelmente antes do fogo.

Juntou um punhado de cinzas e guardou em um pote de vidro pequeno e achatado que trouxera em sua sacola. Se sentia mal pela cidade, sentia o coração pesar em uma parcela de culpa. Adentrou mais na cidade até achar o que deveria ser o centro, viu um grupo de homens, enchendo um carro puxado por dois cavalos com pertences de casas que não foram consumidas pelo fogo. Se aproximou dos saqueadores e perguntou o que faziam, todos olharam da onde veio a voz, mas não esboçaram reação até que um deles puxou uma espada e disse:

- Isso aqui já é nosso, vá procurar o seu quinhão.
- A quanto tempo essa cidade foi destruída?
- Devem fazer uns 8 dias, mas as notícias correm depressa, pelo visto.
- O Rei de Tartus estava morto há mais tempo. O que você ouviu falar?
- Isso não lhe interessa.

O saqueador avançou para uma estocada com sua espada, mas o homem desviou e pegou-o pelo braço, fazendo-lhe uma torção e colocando-o de joelhos em uma fração de segundo. Ordenou para o saqueador largar a espada, mas ao invés disso ele procurou algo no cordão da calça. O homem viu algo prateado e largou o braço do saqueador, colocando rapidamente suas mãos ao redor de sua cabeça e à torcendo para trás com um barulho grotesco, vindo dos ossos e das cordas vocais do ladrão.

Os outros ficaram aterrorizados com a cena, colocaram os pertences que estavam em suas mãos no carro e partiram dali. O homem desconhecido retornou pelo mesmo caminho de onde viera. Cruzou o portal novamente e lá estava o Guardião, suando e com uma fúria evidente. Ele estava tentando tirar a armadura, sem sucesso.

- Qual o problema Guardião? Não consegue tirar a armadura?
- Por que você está de volta?
- Encontrei com seus amigos saqueadores. Acho que foi estupidez te deixar de guarda, logo que as pessoas entrassem na cidade, elas veriam que não restou nada e voltariam para reclamar seus pertences. Mas deve ter sido só para se livrar de você mesmo, já que eles foram embora.
- Mas o quê? Merda... Como sou idiota. Mas você caiu! Deixou seu cavalo aqui!
- Guardiões têm suas armaduras feitas especialmente para eles. Você está um pouco mais gordo do que o homem que roubou e sem ajuda, nunca conseguiria tirar isso, achei que era o poste perfeito para deixar meu cavalo enquanto reconhecia o terreno.

O falso Guardião não tinha mais palavras na boca, mas seus olhos se enchiam de fúria. Disparou sobre aquele homem, que chutou seu peito quando chegou perto o suficiente, caindo de costas. Se virou de lado para se levantar, mas o homem pisou em suas costas o impedindo de completar sua vontade.

- Você deve ter ouvido histórias do que aconteceu por aqui. Se me contar o que ouviu, pouparei sua vida.
- Vá à merda!

O homem tirou seu pé da armadura do salafrário e se dirigiu para seu cavalo, colocando suas coisas de volta e montando nele enquanto o outro se levantava e recuperava o fôlego do esforço. Se virando para o falso Guardião disse:

- Sabe, você não vai conseguir tirar essa armadura sozinho e sem um meio de transporte, morrerá de sede por aqui.

O falso Guardião avançou para o cavalo com os punhos cerrados, mas o homem montado deu algumas voltas nele, demonstrando grande controle do animal, ao mesmo tempo que desviava de suas investidas que não teriam agilidade sem armadura, muito menos com uma. Depois de praguejar e dançar tentando alcançar o cavalo e seu dono, caiu no chão pelo cansaço. O homem montado também desistiu da informação, mas disse uma última coisa para o homem de armadura: "Aliás, esse cavalo é Britano". Assim, começou a cavalgar de volta à cidade, indo em direção à Nicosa, aonde outro Imperador havia morrido, mas com menos esperanças de acha-la próspera.

1 de julho de 2011

Um Anônimo


- Ele iniciou sua campanha por Borgia, assassinando o Escorpião Rei.
- Escorpião Rei estava em Borgia? Ele pertence as terras áridas, não à floresta de pedra.
- Sim, meu senhor, mas o Assassino é astuto, espera o momento em que sua vítima está mais despreparada e ataca.
- Eu estava preocupado, mas suas histórias me alarmaram ainda mais.
- Não é preciso alarme, meu senhor, você me contratou para protege-lo e é isso que continuarei fazendo.
- Você está me custando muito, mas se for necessário para proteger minha vida, gastarei o que for preciso.

O Imperador terminou a conversa tomando um último gole do vinho. Gordo e lento, se levantou com esforço e se dirigiu à janela para contemplar as estrelas no céu. Com seu cálice em mãos, disse:

- Você me disse que ele foi visto pela última vez na Babilônia... Que os deuses o impeçam de se associar com os assírios, mas pelo menos ele está longe daqui. Me pergunto como ele se movimenta tão rápido.
- Dizem que ele roubou cavalos Britanos. Acredito que seja verdade, porque sempre que eu o seguia, estava à 2 passos atrás dele e meu cavalo não é ruim, foi criado nos pastos de Corã, na Tucasca.
- Já fiz algumas negociações com eles, bons cavalos realmente. Eu só queria saber o porquê desse homem estar matando os reis das Terras Secas. Eu entenderia se fosse pelo poder, mas tudo que ele faz depois de matar os pobres coitados, é saquear seus bens. Para um ladrão, ele está botando muito esforço em sua conquista.
- Mas não é só matar e saquear, meu senhor, ele está deixando o controle na mão do povo. Nenhum outro rei subiu ao trono, principalmente porque não haviam herdeiros para toma-lo.
- Sim, você me disse que era por isso que acredita que eu serei o próximo.
- Por isso e por você ser o ultimo desgraçado que restou.

Quando a reação chegou ao cérebro, já era tarde demais. Tudo que ele pode pensar foi na dor que sentiu quando a lâmina fria atravessou sua nuca enquanto uma mão cobria sua boca. Nenhum ruído alto foi feito, o assassino retirou a faca e colocou o Imperador de Solima deitado no chão, esfaqueando seu coração 3 vezes, como manda o Ato. Limpou a lâmina em um pano que trouxera e a escondera novamente em sua bainha, junto com o pano em um bolso por dentro da calça.

Saiu pela porta, avisando ao guarda de prontidão que Seu Imperador não deveria ser incomodado pelo resto da noite. Já no estábulo, achou seu belo cavalo Britano de pêlos marrons e deixou a morada do Imperador a galope, enquanto abria seu alforje para pegar alguns papéis retangulares, que começou a espalhar pela cidade enquanto ia embora dela. No papel, havia os dizeres: "Está cidade agora é sua e de todos vocês, para o bem ou para o mal"

25 de junho de 2011

Comentários sobre Assassin's Creed 2 (Um Jogo)

Eu gosto de jogos e decidi testar uma coisa "nova" no quesito análise de jogos.


Só queria deixar registrado que isso deu um trabalho desgraçado.

27 de maio de 2011

Só vou deixar isso aqui.

É dia 4 de Novembro de 2008, estou fazendo uma matéria sobre uma eleição durante algumas horas. Noto que estou chegando perto das quatro da manhã quando de súbito surge uma vontade de ir até a cozinha pegar alguma coisa. Aparece em minha mente uma fraca memória aonde eu vou até a cozinha pegar algo e lá recordo-me que eu já sabia que eu iria me dirigir à cozinha para pegar algo, assim me veio a mente que eu já sabia que eu iria à cozinha me lembrando que eu iria para a cozinha pegar algo. Não foi uma tomada de decisão, eu podia ver que eu já tinha feito isso, ou melhor que eu iria fazer. Uma visão do futuro que se instalou em alguma parte da minha memória a qual eu não tinha dado importância até esse momento.

O que eu farei agora? O que eu iria pegar na cozinha? Só sei que me lembro que eu já sabia que eu iria na cozinha pensando que eu já sabia que iria à cozinha. Mas e se minha memória do futuro estiver errada? Quer dizer que não é uma memória do futuro como eu claramente a vejo? Ou só por ver o futuro eu já o mudei? Quer dizer que isso criaria automaticamente uma dimensão alternativa? Ou essas dimensões já estavam lá, quando eu vi o futuro? Ou elas precisam ser criadas e por isso eu vi o futuro? Terei meu destino traçado então? E se eu decidir não ir? Eu estarei mudando o futuro e com isso impedindo que algum presidente tome seu lugar por direito no poder? Em qual dimensão isso aconteceria? Na minha ou em outra? Sabe o que mais? Eu vou até lá.

E fui. Andei até a cozinha decidido a resolver esse mistério, apertei o interruptor, a luz se acendeu, lembrei que eu tinha lembrado que essa cena iria acontecer, sabia que eu iria pegar alguma coisa na cozinha, mas não sabia o quê. Tomei um copo d'água, desliguei a luz e voltei para o meu trabalho. Espero que eu não tenha arruinado a vida de ninguém com isso.

14 de fevereiro de 2011

Eu acredito

Meu caros leitores, tendo eu vista eu organizar meus horários para encaixar outros projetos e outras coisas que quero fazer, deixarei um pouco de lado o blog e seus posts. Sei que pode ser difícil de aceitar e muitos me chamarão de vagabundo, mas será necessário, pelo menos por um tempo. Garanto que vocês não estarão perdendo nada, eu só estaria escrevendo textos chatos nesse meio tempo, isso quando postasse.

Mas antes de terminar, uma frase do Harvey Dent para vocês: "A noite é mais escura logo antes do amanhecer."

31 de janeiro de 2011

De Volta à Roda

É engraçado que eu já falei muito sobre aproveitar as férias e como aproveitar as férias, mesmo que eu só tenha falado besteira. Mas agora que as pessoas começam à voltar para suas rotinas diárias, cria-se outro problema, que ninguém pará para pensar. No quê? Na vida. E aqui começamos mais um dos meus textos de como te ensinar a viver, como se eu soubesse alguma coisa, mas continuemos.

Nos tempos de colégio, durante um dia da semana algumas turmas saíam mais cedo que outras e eu saía mais cedo que a turma da namoradinha na época, então eu ficava à esperando. Como eu tinha que esperar uma aula inteira de 50 minutos, tudo que eu tinha para fazer é conversar com os amigos idiotas que acabavam indo embora ou fazer a lição de casa.

Aí eu tinha um tempo livre, na realidade eu tinha um monte de tempo livre, mas só fui notar o que é isso quando não tinha mais nada para fazer. Ali eu vi o que significava rotina, se ao invés de esperar alguém eu tivesse ido para casa assistir TV ou fazer outra coisa só porque eu vinha fazendo isso todo dia, eu nem notaria quanto tempo eu tinha. E nem notava.

Bem, já que tudo o que eu podia fazer depois que os amigos iam embora era fazer algo que eu não gostava, que era a lição de casa, eu tinha que criar algo para fazer e ao invés de jogar um rolo de papel higiênico na privada, eu usei minha energia para algo mais construtivo e ficava escrevendo. Talvez escrever não seja a coisa mais construtiva que você pode fazer da sua vida, mas a ideia é essa.

Se você parar por alguns minutos sua rotina diária para pensar no quê de construtivo você pode fazer por você mesmo, talvez você possa fazer um melhor uso do seu dia. Isso é criar tempo. Com isso eu achei algo para me ocupar, mas mais do que isso, eu estava fazendo algo que eu nunca faria se continuasse na minha rotina. Algo que poderia me ajudar mais tarde.

Uma pessoa que trabalha de manhã e faz faculdade de noite porquê quer algo melhor, já está usufruindo do tempo livre que ela tinha em algo produtivo, o problema é se perder no meio do caminho e esquecer o porquê de você estar ali e esse é um dos efeitos da rotina incansável.

Mas vale a pena parar um pouco e pensar no que você anda fazendo, porque não existe nada pior do que viver um dia igual ao outro e não distinguir o que foi ontem e o que foi hoje.