30 de março de 2012

Um Anônimo 3


Um homem chegava a cavalo a uma bela cidade, cercada com paliçadas de madeira levantadas para uma guerra que nunca aconteceu. O homem entrou na cidade por uma passagem na estrutura de madeira, aonde havia muitas pessoas saindo e entrando com grandes carroças, lotadas de verduras, legumes e outros alimentos. O chão era feito de pedras, que ressonava com o barulho das vozes das pessoas que negociavam e trocavam produtos em meio a um calor seco, apenas apaziguado pelas sombras dos toldos e sombrinhas que alguns traziam consigo, o que às vezes dificultava o caminho do homem que calmamente desviava das pessoas e carroças paradas.

Ele já tinha estado ali antes, como estivera na cidade anterior, mas as coisas tinham mudado, onde se via crianças pedindo esmolas, agora haviam crianças vendendo jornais, assim como as lojas quase sem estoques agora estavam sem espaço para armazenar tudo que o dinheiro podia comprar. Quem falou isso era um conhecido do homem sem nome, Jullios, que comandava um pequeno cabaré no coração da cidade de Nicosa.
- Então Richard, parece que seu plano deu certo, apesar de tudo – continuava Jullios – Tivemos um pequeno alvoroço, mas o povo venceu.
- Plano? Não sei do que você está falando – retrucou o homem
- Eu sei que foi você – deu um sorriso pretensioso – Uma pessoa comprou 2 Kg de papel a muito tempo atrás, quando ainda não tínhamos caído na lama total. Depois que assassinaram o Rei, apareceram os folhetos com aqueles dizeres. Eu fiz as contas.
- Não sei do que está falando – o homem abriu um sorriso – Preciso de um quarto, o de sempre.
- Fico feliz em saber que escolheu o meu estabelecimento – Jullios passou a mão por dentro do balcão e pegou uma chave – mesmo sabendo que os hotéis daqui não têm mais pulgas.
- Mesmo que tivessem – disse pegando a chave de sua mão – nada se comparava a tomar café da manhã de frente para belas mulheres.

Os dois riram e Jullios tratou de mandar colocar o cavalo do homem para dentro de seus estábulos enquanto ele subia para os quartos. O lugar tinha um carpete vermelho pelas paredes e no chão, com rodapés chanfrados feitos de madeira escura, sentindo uma leve essência de perfume feminino, podendo ouvir gemidos fingidos por fora das portas que passava. Seu quarto era o 06, ultimo do corredor que dava para os fundos do lugar, virou a chave na porta de madeira e abriu a porta. 


Havia um homem sentado em uma das cadeiras que ficavam ao lado de uma mesa de café, ele vestia uma roupa de algodão e linho tingida de branco, tinha cabelos negros e longos, mas nenhuma barba. O homem sem nome entrou sem se preocupar, fechando a porta atrás de si e deixando a chave pendurada na fechadura. Chegou perto do intruso e disse:
- Não esperava vê-lo aqui, irmão – o homem de branco se levantou
- Claro que não esperava – sorriu – se esperasse, eu ficaria muito chateado comigo mesmo.
Os dois fizeram um comprimento característico que consistia em agarrar a mão do outro como que pelo polegar e puxar o peito um para o outro terminando em um abraço fraternal. O homem de branco disse:
- Não acredito que você fez o que fez
- Também não acredito. – foi à frente da mesa para saborear uma uva – Mas fiz o que achei certo. Nosso mestre nos disse para fazer isso.
- Ele também nos disse para não usar o Ato fora de missões oficiais. – disse o homem de branco fechando o rosto – Você sabe o que eu vim fazer aqui. Ninguém deixa a irmandade sem consequências. Ninguém faz o que você fez sem consequências.
- Acredito que como meu amigo e ex-irmão, se assim você preferir – começou, o homem sem nome – Você só me veio dar um aviso.
- Exatamente – falou amargo – Mas vou ter que caça-lo depois disso. E quando eu não conseguir pega-lo, vão enviar outro em meu lugar. Talvez me executem se souberem que eu lhe avisei que estamos cientes de seus feitos e eles sempre sabem.

Ele sabia o que isso significava. O homem de branco se sentou na cadeira e tirou uma faca prata adornada com símbolos da irmandade e a estendeu com as duas mãos para o homem chamado Richard, que o olhou de volta, ainda em frente à mesa, pegou a faca de suas mãos. A empunhou com a mão direita enquanto o homem abaixava a cabeça, deixando os cabelos caírem, escondendo seu rosto em um tétrico véu de morte.

Richard se afastou da mesa, ficando ao lado do outro, se preparando para dar o golpe. O punhal subiu e reluziu com a luz em um momento de hesitação para enfim descer em um rápido golpe que cortou o pescoço do homem, manchando de vermelho o tecido branco.